segunda-feira, 12 de julho de 2010

Uma nova história.

Não faz muito tempo, havia um povo que, dominado por sua minoria, era obrigado a viver contra os seus direitos, costumes e opiniões. Um povo que não tinha liberdade, que não podia fazer escolhas e que era vítima de grandes barbaridades. Preconceitos de todos os tipos eram vividos pelos negros na África do Sul, regida na época pelo apartheid, uma segregação racial definida por lei.
Após muitas lutas e massacres, resistências e mortes, um homem consegue fazer a diferença. Símbolo maior da luta contra a injustiça e o abuso de poder dos afrikaners (brancos sul-africanos) contra os negros, Nelson Mandela chega para mudar o rumo da história. Não só a história do seu país, mas a história da humanidade. Mesmo após ser preso durante sua resistência, conseguiu dar a volta por cima e tirar do poder aqueles que não poderiam nunca ter chegado lá.
Hoje, 16 anos depois do fim do apartheid, todos assistem de suas casas ou dos estádios a uma Copa do Mundo em territórios africanos, evento esse que, só está ocorrendo onde está, graças à Mandela. E, ao vê-lo entrar no estádio lotado, na cerimônia de encerramento da Copa, me passou pela cabeça como estaria o próprio ao ver a cena. Como imaginar um homem de 91 anos, que lutou por justiça, paz e igualdade em um lugar onde ninguém mais acreditava, entrar em um estádio lotado de pessoas que estavam ali dispostas a ovacioná-lo e adimirá-lo. Isso sim é a tal realização e felicidade. Ter o seu dever cumprido. Saber que fez o que pôde e que conseguiu mudar o rumo da história.
Ver reportagens das crianças de Soweto - um lugar que foi símbolo de luta e resistência contra a segregação racial, palco de muitos massacres -, que encontram a felicidade em apenas uma bola de futebol, é realmente perceber que não precisamos de muito para sermos felizes.
A "onda" africana vai passar. Certamente, daqui a alguns meses, não existirão mais reportagens por lá. Não haverão câmeras por toda a parte e registrando toda a rica cultura do continente. Certamente, daqui a alguns meses, muitos só vão lembrar em falar da África em provas de Geografia ou na hora de comentar dos jogos da Copa do Mundo de 2010. Mas, certamente, esse período de um mês em que se passou a Copa, jamais será esquecido pela população. Eles viram que são capazes. Viram que podem mostrar ao mundo que são capazes de integrar a sociedade mundial, que também são gente, pessoas, e não bichos, como muitos insistem em acreditar.
Esse mês que se passou mostrou que ali existe um povo em desenvolvimento, mas capaz de dar a volta por cima. Capaz de mostrar ao mundo que existe, e que não está aqui apenas para sofrer. Mas, essa evolução não acontece de um dia para o outro. Tampouco, sozinha. Essa evolução precisa de ajuda. Ajuda da população entre si, num movimento interno para evoluir, e também da ajuda vinda de fora, onde o mundo inteiro ajudaria essa população a se desenvolver. Seria mais rápido e mais eficaz. Mas, para isso, é preciso desenvolver a mente, e acreditar em algo que não seja apenas dinheiro. É preciso acreditar na humanidade!
E, talvez, o mundo não esteja preparado para isso. Quem sabe daqui a algumas Copas, o povo africano não volte a ficar em evidência com todo o seu carisma e sua simpatia? É mais fácil acreditar nisso, no que na evolução da mente humana. É mais "fácil" deixar um continente jogado de lado, do que lutar para revivê-lo. Aquele povo não quer tomar o mundo, só quer viver, uma chance de ser feliz.
Eles só querem uma chance de poder sentir, nem que seja uma vez na vida, a felicidade que Nelson Mandela teve ontem ao entrar no Soccer City, em Joanesburgo. Querem ver o esforço de uma vida valer a pena. Ver as diferenças jogadas de lado. Ver que todos podemos ser um só!